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  • Foto do escritorInês Viana

Saúde e bem-estar: fundamentos dos edifícios saudáveis

Atualizado: 3 de dez. de 2022

Quando falamos em promover saúde e bem-estar, automaticamente o nosso pensamento vai para aspectos de alimentação e exercícios físico, no entanto, são raras as vezes que pensamos sobre os espaços que frequentamos. A verdade é que passamos 90% do nosso tempo dentro de espaços construídos - a nossa casa, o nosso espaço de trabalho, as lojas que frequentamos, a escola - ainda assim não conectamos estes espaços à nossa saúde e bem-estar.


Para dar um exemplo, passamos 1/3 do nosso dia no nosso quarto, dormir é uma das tarefas onde investimos grande parte do nosso dia, no entanto, 70% dos adultos refere que tem um sono insuficiente pelo menos uma vez por mês e 11% dos adultos reporta um sono insuficiente todos os dias. Se o nosso primeiro passo, na promoção da saúde do sono fosse observar o espaço do quarto e fazer alterações no mesmo, poderíamos melhorar a sua qualidade e até reduzir a percentagem de noites mal dormidas.


É importante notar que apesar de na nossa génese sermos uma espécie de exterior, hoje em dia somos cada vez mais uma espécie de interior, isto significa que os maiores modeladores da nossa saúde encontram-se nos espaços que frequentamos.


Síndrome do edifício doente

Sim, os edíficios que frequentamos podem não ser saudáveis. O síndrome do edifício doente começou a a ser falado em 1980, e é basicamente um conjunto de sintomas (dores de cabeça, cansaço, irritação ocular,...) que afeta os usuários do edifício e que tem como causa os poluentes interiores no espaço.


Para além disto e segundo a OMS, um dos determinantes de saúde são os ambientes físicos que frequentamos. Em resumo: Quando pensamos em saúde e bem-estar temos que pensar nos espaços que utilizamos, pois estes contribuem para a promoção ou deterioração da mesma.


Mas como criamos esses edifícios saudáveis?

Sendo este um tema cada vez mais importante, vários estudos e entidades começaram a aparecer com a definição de um edifício saudável e com fundamentos/parâmetros guias para a construção/adaptação dos mesmos.


As duas grandes referências no mercado, e pelas quais gosto de me guiar são:

  • 9 Foundations for a Healthy Building - Criados por uma equipa multidisciplinar da Harvard T.H. Chan School of Public Health, os 9 Fundamentos para um edifícios saudável são um guia dinâmico e desenhado para auxiliar os profissionais da área da construção a implementar soluções saudáveis nos seus edifícios.

  • WELL Certification - Criada pelo International WELL Building Institute (IWBI), a WELL é uma certificação com 10 anos, totalmente baseada em referências científicas, que definiu 10 Fundamento, com diversos parâmetros de implementação nos espaços de forma a promover saúde e bem-estar nos seus ocupantes.

Sendo que ambas as referências se intersectam, vou continuar este artigo com a base da Certificação WELL, pois acredito que vai além na criação de edifícios saudáveis.


Os fundamento de um edifício saudável

1. Qualidade do ar

Um dos grandes elementos de saúde nos edifícios é a qualidade do ar interior. Muitas vezes pensamos que a poluição exterior é superior à interior, mas isso não é verdade. Devido à quantidade de elementos dentro de um espaço, desde materiais, velas, fogões, lareiras, entre outros, os níveis de poluição interior são elevados, podendo levar a sintomas como dores de cabeça, garganta seca, irritação ocular, asma, infecções de Legionella e até envenenamento por inalação de monóxido de carbono.


É essencial promover edifícios com níveis saudáveis de qualidade do ar interior e ventilação adequada. Algumas estratégias que podemos ter, para além de um bom desenho dos espaços, passam por eliminar as fontes de poluição e sensibilizar os ocupantes dos espaços para este tema.


2. Qualidade da água

Dois terços do nosso corpo é composto por água, sendo este um elemento essencial para a nossa saúde. A água é o meio de transporte dos nutrientes no nosso corpo e ajuda a regular a nossa temperatura interna. Muitas vezes o consumo de água diário que fazemos é insuficiente para o nosso corpo, bem como a qualidade da água que consumimos.


Desta forma, optar por sistemas de tratamento de água de forma a reduzir riscos de saúde e promover e sensibilizar os ocupantes para o consumo da mesma torna-se importante.


3. Iluminação

A luz é o elemento principal na regulação do nosso sistema visual e circadiano. Isto significa que quando somos expostos a uma iluminação inadequada vamos estar a criar uma desregulação nesses sistemas o que pode significar obesidade, diabetes, depressão, problemas metabólicos e de sono.


Hoje em dia vemos preocupação em desenhar espaços com iluminação adequada e saudável a nível visual, no entanto raros são os casos onde existe a preocupação pela saúde do nosso ritmo circadiano. Algumas estratégias podem passar por promover estratégias de iluminação circadiana, que imitam o ritmo da luz solar, ou oferecer diferentes fontes e opções de iluminação aos utilizadores.


4. Conforto térmico

O conforto térmico é um dos elementos que maior impacto tem na nossa percepção e experiência em um espaço, impactando no nossos níveis de motivação, alerta, foco e humor. Tem influência nos nossos sistemas endócriono, respiratorio e tegumentar. Sendo um factor mais individual, pode ser complexo garantir os níveis de conforto ideais num espaço, podendo ser necessário abordar o tema de uma forma holística, com opção individual de regularização sempre que possível.


5. Conforto acústico

O conforto acústico de um espaço pode ser caracterizado pelos níveis globais de satisfação de um ocupante relativamente a um espaço específico. Mais recentemente começou-se a compreender que a exposição a ruídos impacta a nossa saúde e bem-estar, por exemplo, a exposição a ruídos de tráfego e fontes industriais foram relacionadas com distúrbios de sono e hipertensão.


Para optimizar este parâmetro é importante fortalecer as fachadas dos edifícios bem como elementos divisórios interiores, com elementos com propriedades acústicas, bem como apostar em elementos absorventes acústicos em paredes e tetos sempre que necessário.


6. Materiais

Muitos dos materiais utilizados na construção e decoração dos espaços contém químicos prejudiciais à nossa saúde, podendo gerar problemas respiratórios e aumentar o risco de cancro. Neste ponto, é importante aumentar a literacia sobre os materiais que utilizamos e promover o uso de opções mais saudáveis e com certificações de saúde.


7. Movimento

O movimento está alinhado com todos os aspectos da vida diária, seja a atividade física ocupacional, de transporte, lazer e outras. Quando não temos uma atividade física saudável e recorrente, acabamos por gerar problemas como obesidade, diabetes tipo 2, riscos cardiovasculares e mortalidade prematura.


Assim, é importante promover espaços que potenciem a atividade física, através do design ativo - circulações dinâmicas, promoção de deslocação por escadas, espaços para exercício físico - bem como o uso de mobiliário ergonómico e adaptável.


Para além dos 7 fundamentos diretamente ligados ao edifício, a certificação WELL vai mais além e define 3 parâmetros de saúde e bem-estar menos óbvios, mas que complementam os restantes.


8. Mente

A saúde mental é um componente fundamental na nossa saúde e bem-estar e apesar do impacto global da mesma, o valor gasto no cuidado é menos de 2$ por pessoa. Os espaços são uma ferramenta poderosa na mitigação destas questões de saúde mental através de políticas, programas e do próprio design dos espaços.


Neste caso, são propostas estratégias como a criação de programas de literacia em saúde mental, programas de gestão de stress, programas de mindfulness, entre outros. Relativamente ao ambiente construído, o design biofílico é um elemento chave, ou seja, a introdução de elementos da natureza nos espaços, que está estudado que promove benefícios como a redução dos níveis de depressão, ansiedade, e ainda o aumento da capacidade de atenção, de tolerância à dor e também um aumento do bem-estar físico.


9. Nutrição

Promoção de uma alimentação saudável nos espaços, através da apresentação de opções de fruta e vegetais e ainda utilizar os ambientes como reforço deste tipo de alimentação


10. Comunidade

Dentro de cada edifício existe uma comunidade única de pessoas com características distintas, conectadas através de laços sociais e prespectivas comuns. Neste ponto falamos da promoção de comunidades saudáveis, que se apoiam e inclusivas.


Este é o momento de pensar na criação de edifícios saudáveis

Numa altura em que se fala de questões de sustentabilidade, a saúde não pode ser esquecida. Criar espaços saudáveis e resilientes é criar comunidades saudáveis e resilientes!


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